terça-feira, 15 de março de 2011

Pobre também discute a relação

(Gênero: Crônica)
Por Luciene Almeida

Todo casal tem seus momentos de crise para discutir a relação. A vida do pobre, por exemplo, por mais desinteressante que possa parecer para alguns, também apresenta picos elevados de estresse emocional, e é nesse ponto dramático da relação entre homem x mulher, homem x homem ou ainda mulher x mulher, enfim, que os pares decidem que é importante discutir a relação.

O conflito de Ana Amélia começou numa noite em que preparava sua marmita. O prato do dia seguinte seria uma deliciosa omelete preparada minuciosamente com três ovos, cebola e alguns pedaços de tomate para decorar.

Orgulhosa de ter preparado sua omelete-titã, o próximo desafio seria colocar tudo aquilo em um espaço de apenas dez centímetros de diâmetro. O problema foi facilmente resolvido ao ter a genial ideia de abdicar do feijão para ter mais espaço para o ovo.

Seu homem, que estava sentado no outro extremo da mesa, notou a luta que sua mulher travava para sobreviver e sentiu que a amava ainda mais por isso.

“É mesmo uma grande mulher”, suspirou.

No dia seguinte Ana Amélia acordou atrasada, no entanto, não esqueceu a marmita. Após enfrentar um ônibus e um trólebus superlotados e driblar os vendedores ambulantes, ela - com aquele jeitinho brasileiro - conseguiu passar pela multidão, garantindo assim a segurança de seu almoço.

No trabalho, o dia demorou a passar. Quando deu meio-dia saiu correndo para bater o cartão de ponto. Caminhou apressadamente para a cozinha a fim de esquentar sua marmita, mas, qual não foi sua surpresa ao perceber que no lugar da omelete havia um enorme pedaço de carne...

- Eu mato aquele traste! Eu falei que não queria carne na minha marmita!

Chocada e ao mesmo tempo transtornada com a mudança radical de seus planos para o almoço, perdeu completamente o apetite, negando-se a comer qualquer outra coisa durante o resto do expediente.

Ao chegar em casa a chapa esquentou.

- Por que você sempre faz essas coisas? É pra me magoar? – pergunta ela agredindo ele com a bolsa.

- Oxênte? Tá ficando louca? – ele tenta se defender como pode.

- Você sabe que eu não gosto de carne! Quantas vezes eu vou ter que pedir para você não fazer isso?!

- Eu só estava querendo te ajudar... – defende-se.

- Olha, isso está realmente desgastando a nossa relação – ela faz uma pausa e continua – Você precisa entender que nós somos muito diferentes...

- Mas eu só queria que você cumesse mais sustância, meu amô! – ele justificou.

- Do jeito que as coisas andam é melhor a gente terminar tudo mesmo – disse ela decidida.

O homem acha um desaforo que ela termine a relação. Ainda mais por causa de um ovo!

- Já que é assim, vai para PQP com seu omelete e tudo!  - ele desabafa - Eu só queria te ajudar e você me paga desse jeito!

Ela acha uma ignorância ele gritar com ela.

- Eu sabia que você não valia nada. Primeiro começa com a marmita, amanhã ou depois vai querer mexer na minha gaveta de calcinha e jogar fora aquilo que não gosta mais!

Ele não perdeu a deixa:

- Já que você tocou no assunto, é bom mesmo você dar uma geral na sua gaveta de calcinha tem cada caco de calcinha que não sei como você tem coragem de usar aquilo!

Com o nível da conversa beirando a sarjeta ela ataca de novo:

- E você já deu uma olhada nas suas cuecas? Tem cueca ali de quando você tinha 10 anos de idade!

Nesse ponto da discussão, ele acha prudente ter cautela. O clima fica tenso e ela solta mais essa:

- Escuta, para que essa relação dê certo você tem que respeitar meu espaço, meus gostos e parar de interferir no meu modo de ser... na minha marmita, entende?

Parecia muito plausível o que ela acabava de dizer.

- Tudo bem, eu não vou mais interferir na sua marmita, desde que você não conte para suas amigas sobre minhas cuecas.

- Combinado!

Depois de uma conversa adulta e bem esclarecida, ambos se abraçaram e trocaram beijos apaixonados. Embora, Ana Amélia tenha ficado durante uma semana reclamando da troca de sua mistura na marmita.

Enfim... coisas de mulher.

O fato é: seja rico ou seja pobre, todo casal tem o direito e o dever de discutir a relação. Até mesmo porque são as omeletes da vida que dão “sustância” à vida a dois.








5 comentários:

David Almeida disse...

Estamos ansiosos por novos textos!

Unknown disse...

Lú...

A cada dia uma surpresa!Eu sei que você tem uma imaginação incrível, não vai demorar muito para uma nova comédia realista rsrsrs...
Desejo sucesso, sempre!!!
O texto é um espetáculo!!!!!!!!!!

Lila disse...

Oi Lú, parabéns pelo blog. Achei muito criativo, ou seja, sua cara. Continue escrevendo que estamos te acompanhando. Bjs
Elis / Biblioteca

Unknown disse...
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Luciene Almeida disse...

Eu excluí por engano esse comentário mais estou atualizando... Desculpe Edi!!!

Edi disse...
Lú, acho que vc deve sugerir para Ana Amélia uma ajuda profissional sei la um psicologo, como ela é problematica nossa.
Brigou por causa do baleiro depois a omelete...

Atenciosamente Edi.

30 de março de 2011 10:59