sexta-feira, 25 de março de 2011

Diário do Gato

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terça-feira, 22 de março de 2011

Padeiro surta ao mudar de profissão

(Gênero: Crônica)
Por Luciene Almeida

Desde muito cedo, Rodney Boaventura sabia que tinha um propósito em sua vida: ser padeiro. Aos seis anos de idade fez sua primeira réplica de um legítimo pãozinho francês, na aula de artes conquistando todos seus coleguinhas do jardim de infância. Quando completou 10 anos ao invés de pedir uma bicicleta como as crianças normais de sua faixa etária, surpreendeu os pais pedindo uma batedeira planetária. Aos 15 anos, seu talento para a conquista era algo peculiar e nenhuma menina resistia ao seu jargão: “Vem cá, meu pãozinho-de-ló”. Assim, amassando um pão aqui, fazendo uma empada ali, ele cresceu, ganhou notoriedade e adquiriu experiência considerável no mundo competitivo das roscas, bengalas e afins.

Apesar de parecer bastante convicto quanto a sua profissão, ao chegar na casa dos 18, teve sua primeira crise existencial. E foi nesse momento que decidiu que gostaria de vivenciar novas experiências. Convidado a trabalhar em uma lanchonete de primeira linha, em um shopping de São Paulo - desses que para comprar um hambúrguer você deixa o salário de um mês inteiro - Rodney ficou entusiasmadíssimo com esse desafio. Contudo, o que ele não imaginava é que ao assumir o novo emprego, sua vida social estaria seriamente comprometida.

Logo no primeiro dia, o gerente da lanchonete fez questão de detalhar qual era a função de cada funcionário:

- Aqui é tudo muito simples, meu rapaz. Os garçons servem as mesas. O chapeiro faz os lanches e você checa os pedidos. Alguma dúvida?

- Apenas uma – disse ele.

- Pois não, qual é? – quis saber o gerente.

- Qual é exatamente o nome da minha função?

- Boqueteiro – respondeu seriamente.

Um silêncio mortal se estabeleceu entre eles e a única coisa na qual Rodney conseguia pensar era: “Será que isso vai sujar minha carteira?”.

Sendo ele um rapaz de família, recatado e muito religioso, levaria mesmo algum tempo até se acostumar com a nova nomenclatura da profissão. Afinal, de padeiro para boqueteiro havia uma mudança minimamente considerável. Logo, o novo emprego deveria realmente valer a pena, caso contrário, nada justificaria o desgosto que causaria à sua mãe, quando a pobre descobrisse o que ele andava fazendo por aí.

Vítima das circunstâncias, Rodney Boaventura achou que a princípio devia manter sigilo sobre sua atual ocupação. Assim, sempre que avistava algum conhecido da época da escola ou algum vizinho curioso procurava desviar sua rota, dando voltas olímpicas no bairro para fugir das temidas perguntas pessoais.

Dia desses ao ir para o trabalho avistou dona Jurema, amiga de sua mãe saindo do mercado.

Ele, que geralmente gasta cinco minutos de sua casa até o ponto do ônibus, nesse dia levou cerca de meia hora para conseguir driblar a velha fofoqueira. E quando finalmente pensou que havia conseguido enganá-la teve uma surpresa, que ele prefere definir como a verdadeira “visão do inferno”: dona Jurema parada em sua frente com o cabelo arrepiado, segurando uma sacola cheia de papel higiênico e desinfetante.

- Rodney, quanto tempo não te vejo, menino! Sua mãe me contou que está de emprego novo.

- É...  – ele tentou despistar – Nossa meu ônibus está vindo!

- Caaaalma menino... Não é seu ônibus não. Você não pega todo dia o 574? Então, esse aí é o 653. Pode ficar sossegado. Me conta... O que você faz no seu novo emprego?

- Nada de especial, eu ainda estou no período de experiência.

- Sei... Mas o que você faz lá? Me disseram que você está trabalhando em uma fábrica de bonecas? É isso mesmo? Me conta o que você faz? – ela não parava de repetir.

Sem ter tempo para pensar em nada mais absurdo do que aquilo que tinha acabado de ouvir achou melhor confirmar.

- É. É isso mesmo! Faço bonecas!

- Nossa que coisa, não é mesmo?! Você sempre foi padeiro e agora arruma um emprego tão... diferente.

- Pois é... – disse ele tentando parecer natural.

- E o salário, compensa?

- Compensa sim! Eu ganho muito bem para fazer o que faço. Agora, se me der licença, vou indo porque estou atrasadíssimo.

Rodney deixou a velha falando sozinha e pegou o primeiro ônibus que passou. Mas, como desgraça pouca é bobagem, fatidicamente neste ônibus estava Chicão, filho da dona Jurema.

- Diz aí, Boaventura! O que tem feito da vida?!

- Tô trabalhando em uma lanchonete – respondeu desanimado.

- Entendi, mais o que exatamente você faz lá?

- Ah, eu trabalho numa área específica checando os pedidos dos clientes – ele não quis detalhar muito.

- Eu sei, eu sei. Você é boqueteiro – respondeu Chicão com certa familiaridade ao termo.

- É, isso mesmo! Como você sabe? – surpreendeu-se.

- Eu já trabalhei de boqueteiro em uma lanchonete também. Mas, no meu caso, antes de ser promovido a boqueteiro tive que trabalhar em vários setores da loja até ser promovido.

Aliviado por saber que pelo menos alguém conhecia bem a definição de seu cargo, Rodney sentiu-se confortável e pela primeira vez quis falar a respeito da profissão. Enquanto isso, os passageiros do ônibus trocavam olhares de condenação e, ele, totalmente empolgado com o momento queria falar mais.

- Então, eu não precisei passar por todo este processo. Já entrei direto como boqueteiro. Acho que é porque já tenho experiência anterior como padeiro, sei lá.

- Pode ser... Parabéns cara, você merece!

Alguns minutos depois, ambos se despediram e Rodney começou a pensar que realmente não tinha nada de mais naquele nome. Talvez fosse apenas impressão dele. Então, dá próxima vez que alguém lhe perguntasse sobre seu novo emprego responderia sem fazer rodeios. Mas...Nem foi preciso esperar muito. Dois dias depois de ter se encontrado com seus inoportunos vizinhos, sua própria mãe veio lhe questionar sobre os comentários que corriam pelo bairro.

Rodney tentou explicar a ela o que um boqueteiro faz de verdade; que aquela era uma profissão totalmente legalizada e que não havia nada de mal em ser boqueteiro; que o salário era realmente compensador. Enfim, tentou explicar que primeiro o funcionário é contratado para fazer serviços gerais e somente depois, quando consegue comprovar certo grau de confiança, é que se torna um boqueteiro de fato... Tentou argumentar ainda que tinha sido privilegiado por ter pulado algumas etapas do processo seletivo, pois afinal, assim que foi contratado foi direto para a boqueta. Contudo, nada adiantou...

Infelizmente, ele se deu conta de que sua mãe não tinha condições psicológicas e emocionais para compreender tudo aquilo. Rodney percebeu, então, que esse era um daqueles momentos irônicos da vida em que as pessoas sempre preferem acreditar no pior. Entretanto, não desanimou, pelo contrário, aprendeu “a duras penas” que o tal negócio de crise existencial era coisa para desocupados.

Por isso, hoje, religiosamente encerra seu expediente na boqueta e vai direto para a Praça da República onde cobra R$ 50,00 por hora.  Mas, claro, tudo muito honestamente!

Notas:
No ramo "Fast Food", os termos boqueta e boqueteiro significam:
Boqueta: Balcão
Boqueteiro: Pessoa responsável por conferir os pedidos que estão na boqueta.
Colaborou na finalização deste texto, David Almeida.
Se você gostou desta crônica envie e-mail para lucieny6@hotmail.com 

terça-feira, 15 de março de 2011

Doces e traições

(Gênero: Crônica)

Por Luciene Almeida
Algumas mulheres têm um dom natural para saber se estão sendo traídas. Seja abusando do sexto sentido ou observando os sinais deixados na cena do crime, uma coisa é certa: cedo ou tarde elas descobrem a infame traição.
Mulheres metidas a detetives são as mais perigosas e desconfio que elas estejam se proliferando numa velocidade assustadora. As mulheres detetives são mesmo uma ameaça para a espécie do sexo masculino. E olha que quem está dizendo isso é uma mulher...
O primeiro passo de uma mulher detetive no estágio inicial de sua investigação é observar o suspeito (neste caso, seu marido, namorado, amante ou qualquer outra denominação predominante deste século), por uma perspectiva bastante alternativa. Ou seja, ela nunca vai acusá-lo diretamente, mas irá utilizar-se de artifícios “nada” comuns do dia a dia para fazê-lo entregar-se voluntariamente, como foi o caso de Ana Amélia.
Ana Amélia está casada há exatamente seis meses e, desde então, divide os mesmos talheres e a mesma toalha de banho com seu homem. Recentemente desempregado, o cara tem andado muito estranho e ela suspeita que esteja sendo a mais fresca vítima de uma traição.
Mesmo sem participar de terreiros de umbanda ou coisas do tipo, a mulher detetive encarnou nela. Meticulosa e detalhista, Ana Amélia passou a observar o comportamento de seu cônjuge e a identificar ligações perdidas no celular dele.
Uma tal de Zefa tinha ligado sete vezes! Não eram duas, nem três mas SETE vezes. Para ela, sete era um número cabalístico, então, algo muito sério estava acontecendo ou iria acontecer.
Decidiu que extrairia a verdade e não passaria daquela noite. Ao chegar do trabalho jogou a bolsa no sofá e rapidamente iniciou a conversa.
- Oi, tudo bem? – perguntou observando de canto de olho o baleiro que estava fora do lugar.
- Tudo bem – respondeu ele sem perceber nada de anormal nela.
- Você chupou bala hoje? – ela mandou um daqueles olhares intimidadores.
- Na verdade não. Por quê? – ele passou por ela e foi pegar um copo de água.
- Estranho... Porque percebi que o baleiro está fora do lugar – disse persuasiva.
- Deve ser impressão sua – ele deu meia volta e sentou-se folgadamente no sofá.
Ela insistiu:
- Tem certeza de que você não chupou bala hoje?
- Tenho. Se eu tivesse chupado bala hoje saberia disso! – ele irritou-se com a conversa.
- Tudo bem, não vamos discutir por causa de umas balas. Afinal, o que são algumas balas chupadas – ela fingiu conformar-se com a resposta, mas no instante seguinte mudou de ideia – E a Zefa te ligou hoje?
- Quem!? – ele continuou sem entender.
- Ah! Claro você não deve se lembrar da Zefa não é mesmo?! Se não consegue se lembrar das balas que chupou...
Nesse momento da conversa, o homem já estava bastante irritado.
- Escuta aqui! Vamos esclarecer as coisas. Ninguém chupou bala nessa casa hoje! E para o seu governo, a Zefa tem diabetes!
- Ah... Então você confessa que trouxe alguém nesta casa hoje enquanto eu trabalhava?!
- Não!
Ele ainda parecia seguro da situação.
“Cínico”, ela pensou antes de respirar fundo.
- Muito bem, admita de uma vez que está me traindo e que este baleiro fora do lugar é o indício mais forte de toda a sua safadeza?!
- Não –  ele colocou as mãos atrás da cabeça relaxando o corpo.
- Mas... Você confessou que a Zefa é diabética, logo, você conhece essa mulher!
- Sim, confessei, mas você se esqueceu de um pequeno detalhe...
Ela ficou realmente curiosa com o desenrolar da conversa.
- Ah é? E qual seria o detalhe?
- A Zefa é minha irmã. Você saberia disso se tivesse prestado atenção quando disse que era baiano e tinha nove irmãos!
Ela totalmente confusa questionou:
- Você é baiano? Pensei que fosse sergipano... Ah, tanto faz! Mas e quanto ao baleiro? – retomou ela - Quanto a isso você não tem argumentos!
Ele totalmente surtado respondeu:
- Eu confesso, eu chupei duas ou três balas! Qual o problema?!
- O problema meu bem é que você acaba de se entregar! No baleiro havia apenas três balas de menta e apenas uma bala de morango!
- Tá, e daí?
- E daí que as balas de menta continuam no baleiro e a de morango não! Logo, a pessoa que esteve na casa com você chupou a bala de morango e ainda tirou o baleiro do lugar!
Agora ele estava perdido!
- Eu posso ter chupado a de morango... não posso? – ele gaguejou.
- Não, não pode porque você detesta morango! E quer saber do que mais? Pode juntar suas coisas que está tudo acabado entre nós.
E assim, de maneira muito precisa, Ana Amélia descobriu uma legítima traição. Um homem aparentemente inofensivo revelou-se um verdadeiro crápula ao admitir indiretamente que sua amante chupou a prova do crime: uma bala de morango!
Que esta história sirva de lição aos homens que pensam que podem passar ilesos a uma mulher detetive.
E antes de encerrar o texto, é bom lembrar que, em tempos de traição, é sempre muito útil ter um baleiro em casa. Ele pode revelar, abalar ou determinar o rumo seguro de algumas relações.

Pobre também discute a relação

(Gênero: Crônica)
Por Luciene Almeida

Todo casal tem seus momentos de crise para discutir a relação. A vida do pobre, por exemplo, por mais desinteressante que possa parecer para alguns, também apresenta picos elevados de estresse emocional, e é nesse ponto dramático da relação entre homem x mulher, homem x homem ou ainda mulher x mulher, enfim, que os pares decidem que é importante discutir a relação.

O conflito de Ana Amélia começou numa noite em que preparava sua marmita. O prato do dia seguinte seria uma deliciosa omelete preparada minuciosamente com três ovos, cebola e alguns pedaços de tomate para decorar.

Orgulhosa de ter preparado sua omelete-titã, o próximo desafio seria colocar tudo aquilo em um espaço de apenas dez centímetros de diâmetro. O problema foi facilmente resolvido ao ter a genial ideia de abdicar do feijão para ter mais espaço para o ovo.

Seu homem, que estava sentado no outro extremo da mesa, notou a luta que sua mulher travava para sobreviver e sentiu que a amava ainda mais por isso.

“É mesmo uma grande mulher”, suspirou.

No dia seguinte Ana Amélia acordou atrasada, no entanto, não esqueceu a marmita. Após enfrentar um ônibus e um trólebus superlotados e driblar os vendedores ambulantes, ela - com aquele jeitinho brasileiro - conseguiu passar pela multidão, garantindo assim a segurança de seu almoço.

No trabalho, o dia demorou a passar. Quando deu meio-dia saiu correndo para bater o cartão de ponto. Caminhou apressadamente para a cozinha a fim de esquentar sua marmita, mas, qual não foi sua surpresa ao perceber que no lugar da omelete havia um enorme pedaço de carne...

- Eu mato aquele traste! Eu falei que não queria carne na minha marmita!

Chocada e ao mesmo tempo transtornada com a mudança radical de seus planos para o almoço, perdeu completamente o apetite, negando-se a comer qualquer outra coisa durante o resto do expediente.

Ao chegar em casa a chapa esquentou.

- Por que você sempre faz essas coisas? É pra me magoar? – pergunta ela agredindo ele com a bolsa.

- Oxênte? Tá ficando louca? – ele tenta se defender como pode.

- Você sabe que eu não gosto de carne! Quantas vezes eu vou ter que pedir para você não fazer isso?!

- Eu só estava querendo te ajudar... – defende-se.

- Olha, isso está realmente desgastando a nossa relação – ela faz uma pausa e continua – Você precisa entender que nós somos muito diferentes...

- Mas eu só queria que você cumesse mais sustância, meu amô! – ele justificou.

- Do jeito que as coisas andam é melhor a gente terminar tudo mesmo – disse ela decidida.

O homem acha um desaforo que ela termine a relação. Ainda mais por causa de um ovo!

- Já que é assim, vai para PQP com seu omelete e tudo!  - ele desabafa - Eu só queria te ajudar e você me paga desse jeito!

Ela acha uma ignorância ele gritar com ela.

- Eu sabia que você não valia nada. Primeiro começa com a marmita, amanhã ou depois vai querer mexer na minha gaveta de calcinha e jogar fora aquilo que não gosta mais!

Ele não perdeu a deixa:

- Já que você tocou no assunto, é bom mesmo você dar uma geral na sua gaveta de calcinha tem cada caco de calcinha que não sei como você tem coragem de usar aquilo!

Com o nível da conversa beirando a sarjeta ela ataca de novo:

- E você já deu uma olhada nas suas cuecas? Tem cueca ali de quando você tinha 10 anos de idade!

Nesse ponto da discussão, ele acha prudente ter cautela. O clima fica tenso e ela solta mais essa:

- Escuta, para que essa relação dê certo você tem que respeitar meu espaço, meus gostos e parar de interferir no meu modo de ser... na minha marmita, entende?

Parecia muito plausível o que ela acabava de dizer.

- Tudo bem, eu não vou mais interferir na sua marmita, desde que você não conte para suas amigas sobre minhas cuecas.

- Combinado!

Depois de uma conversa adulta e bem esclarecida, ambos se abraçaram e trocaram beijos apaixonados. Embora, Ana Amélia tenha ficado durante uma semana reclamando da troca de sua mistura na marmita.

Enfim... coisas de mulher.

O fato é: seja rico ou seja pobre, todo casal tem o direito e o dever de discutir a relação. Até mesmo porque são as omeletes da vida que dão “sustância” à vida a dois.