quinta-feira, 30 de junho de 2011

A modinha que agrega ou segrega?

Por Luciene Almeida
Já faz algum tempo que quero escrever algo a respeito dessa nova maneira de se comunicar e/ou se relacionar no século XXI. Refiro-me às  “redes sociais, que surgiram no Brasil em 2004 com a criação do Orkut. Hoje, ultrapassado pelos tops de linha: Facebook, Twitter, Myspace e afins.

Embora pareçam inofensivas e descoladas, a meu ver, as redes sociais tornaram-se um termômetro de popularidade, prontas para exterminar os verdadeiros relacionamentos, ultrajando-os com um novo padrão de comportamento, no qual o indivíduo abre mão de sua essência e passa a existir de maneira superficial.

Falando especificamente do Facebook - Rede social à qual recentemente me vinculei e não me adaptei - observei o seguinte: sempre tem alguém forçando uma integração ou socialização, principalmente com pessoas às quais acabaram de conhecer. O que evidencia uma carência afetiva escancarada, que dificilmente será suprida no cyberespaço.

Pense: Se já é complicado fazer amigos da maneira tradicional, imagine só pela Internet! Lugar onde cada um revela apenas parte de si... Aliás, nem isso, pois o que menos tem nas redes sociais são pessoas ponderadas ou resguardadas. Parece até um concurso implícito pra ver quem consegue ter mais projeção.


Clique aqui p/ ampliar!
Pode parecer contraditório da minha parte dizer isso agora, mas a verdade é que não vejo nada de errado em postar uma foto ou enviar um recado para um amigo que há muito não se vê. É saudável cultivar vínculos. No entanto, o que está acontecendo é algo muito diferente disso.

As redes sociais tornaram-se  vitrines  nas quais você pretensiosamente define o tipo de pessoa quer ser e escolhe também o tipo de amigo quer ter. E pior! Fazem exatamente a mesma coisa com você! É algo mais ou menos assim: “Ah... Esse cara aqui é médico? Ok. Vou enviar um convite pra ele!”. Como se comprassemos um tomate no mercado.

Aonde esse mundo vai parar?! E o que aconteceu com a boa e velha conversa pessoal? Sinceramente, estou pensando em ir embora deste planeta. Não que eu queira morrer! Longe de mim!

Mas, se por acaso, você conhecer alguém que esteja vendendo passagem só de ida pra a Lua, por favor, me avise. Acho que por lá terei mais sucesso em fazer amizades do que seguindo os novos métodos desta Era tão globalizada. Em todo caso, antes de ir, me informarei primeiro para saber se São Jorge já tem perfil criado no Facebook.

Sei que soa antiquado, mas, em tempos de redes sociais quem consegue ter pelo menos um amigo de verdade é rei! 
Ah! Coincidentemente encontrei um vídeo muito engraçado do Felipe Neto - "Não faz sentido - Mídias Sociais"

terça-feira, 28 de junho de 2011

Vida longa a Valdemar!

Próximo à cidade de Ponte Nova, em Minas Gerais há um vilarejo, cuja população não chega a quinhentos habitantes. 

A casa mais antiga, de arquitetura rústica, foi construída por volta dos anos 60 e está localizada próxima de montanhas rochosas, lugar onde o vento sopra gelado e qualquer raio de sol é ansiosamente desejado por todos.

Da janela é possível observar a vegetação revestindo os morros como se fosse um imenso tapete. 
Rio Piranga, em MG
E em algum lugar não muito longe dali, existe um rio. Um rio largo, de cor verde esmeralda correndo silencioso por entre as colinas, alertando de maneira soturna, que aquilo ali se trata de um tipo raro de beleza, a qual devemos contemplar somente à distância.

Neste perfeito quadro bucólico, que dispensa qualquer retoque, mora um senhor que tornou-se praticamente patrimônio histórico da região. 

Seu nome é Valdemar Pereira. Ele nasceu em 13 de junho de 1910. Tem 101 anos!

Este homem de cabelos e barbas brancas viu o Brasil conquistar 5 títulos mundiais: 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002. Ele acompanhou pelo rádio de pilha, o homem ir à lua, ficou sabendo da invenção da lâmpada, do automóvel, do telefone... Ele simplesmente perpassou  duas Guerras Mundiais, além da época da Ditadura no Brasil!
Meu bisavô, 101 anos!
O homem a quem me refiro é meu bisavô.

A velhice chegou para ele, mas por incrível que pareça, o peso de mais de um século de vida não foi capaz de roubar-lhe o olhar atento, a voz vigorosa e principalmente a lucidez.

Ao ser questionado sobre o segredo para tanta vitalidade, a resposta é uma risada franca que contagia a todos. Embora não revele a ninguém o mistério de sua longevidade, me aventuro a dizer que tanto vigor se deve a uma dose diária da cachaça “Rainha da Lagoa”, hábito muito comum no interior de Minas.

Bem informado sobre movimentos culturais, históricos e políticos relacionados às cidades de Mariana e Ouro Preto, ele conta que chegou a conhecer ex-escravos e também senhores do café para os quais trabalhou por certo tempo.

Devoto de “Bom Jesus de Congonhas” - Santo que, segundo ele, o livrou da amputação de uma das pernas - caminhou a pé da cidade de Ponte Nova à Congonhaso equivalente a quase 100 quilômetros, para pagar promessa. 

Articulado para contar histórias, ele adora falar dos tempos em que ajudou a construir uma das principais estações de trem de sua cidade. Descendente de italiano, baixinho e de sangue quente, engrossa a voz e comenta que embora tenha trabalhado para “gente muito importante”, nunca levou desaforos pra casa. 

Você deve estar pensando: "Por que ela está falando tanto do bisavô?".  Bom, é porque neste feriado de Corpus Christi fui visitá-lo e percebi que ele estava muito bem, graças a Deus. 

E não é por nada não, mas por acaso me veio a lembrança de algo importante: ele é mais velho do que o próprio Corinthians! Isso é algo a ser levado em conta, ora bolas! Além do mais, quantas pessoas podem dizer que conheceram suas raízes? Eu conheci as minhas! 


É bem verdade que fiquei um pouco confusa ao conhecer minhas raízes e tentar compreender a árvore genealógica da família.

Veja só: Meu bisa é carioca, mas foi morar em Minas; meu avô (filho do meu bisa) é mineiro, mas foi morar em Mato Grosso, Meu pai é mineiro mas foi criado em MT e mudou-se para SP, eu sou natural de Mato Grosso, mas fui criada em São Paulo.  Aff! Só tomando uma dose de cachaça antes pra entender...

Mas, retomando o assunto "futebol", meu bisa também tem suas predileções esportivas. Em São Paulo é Santista. No Rio é Flamengo e em Minas é Atlético Mineiro, Uai! 

Viva a terra do pãozinho de queijo, da goiabada cascão, da comidinha caseira feita no fogão de lenha e  VIDA LONGA A VALDEMAR PEREIRA, patriarca da família!


terça-feira, 14 de junho de 2011

A alegria vai passar...

Por Luciene Almeida

Dia desses peguei ônibus com um palhaço. Seu nome era Esparadrapo e ele vendia trufas de chocolate para ajudar um hospital que cuida de crianças com câncer.

Enquanto ele caminhava no meio do povo tentando se equilibrar, gritava repetidas vezes: “A alegria vai passar!”...

Fiquei imaginando a confusão que daria se aquelas trufas se espalhassem dentro do bus. O que ia ter de criança gritando para pegar chocolate...

Não bastasse o amontoado de gente disputando o mesmo metro quadrado, pra piorar aparece o palhaço tumultuando ainda mais. E não é exagero, não! Quem depende de transporte público sabe do que estou falando.

A superlotação de ônibus tornou-se praticamente a senzala do século XXI!

De manhã e de noite, lá estamos nós, pagando caro para irmos direto ao Pelourinho. Uns dependurados e tristes. Outros sentados e alegres. Aliás, tem uns indivíduos tão alegres pela manhã que dá até raiva! E o cobrador? Esse é outro chato que adora reclamar quando o bilhete único dá erro de leitura... E o erro nunca é da catraca. É sempre do passageiro!

Sem falar em problemas mais sérios como: greves, aumento abusivo de tarifa... 

Sei não viu... Será que estamos regredindo para a época do Brasil Colonial? É incrível como ainda somos condicionados por um sistema que nos priva de ter dignidade.

Quanto ao palhaço – fonte inspiradora deste texto – não pude deixar de observá-lo com insistência. Olhei uma, duas, três vezes... Tentei disfarçar, olhar para o lado... Mas meus olhos estavam vidrados naquele nariz vermelho. E também, não era pra menos! Faz tanto tempo que não vejo um palhaço...

Já vi muita gente comercializando produtos nos corredores dos ônibus, como por exemplo: ambulante sem perna vendendo bala de goma; velhinha pedindo dinheiro pra voltar para a Bahia; ex-drogado querendo colaboração para sua clínica de reabilitação... Mas, palhaço vendendo trufas foi a primeira vez.

- Saí da frente que a alegria vai passar! – Ele gritava.

E assim, empurrando daqui e dali, finalmente desceu.

Esse encontro com o palhaço Esparadrapo me fez recordar de uma época em que eu acordava às cinco horas da madrugada para entrar no trabalho às 7h. Eu enfrentava uma jornada intensiva e ainda ia para faculdade. Dormia somente 4 horas por noite.

Algumas vezes, por causa da exaustão do dia anterior, entrava no ônibus e quando vazio (coisa rara) sentava em qualquer lugar, sem ao menos observar se era preferencial. Precisava aproveitar aqueles minutos para dormir. Se aparecesse algum idoso ou gestante na minha frente, me dava uma depressão e eu começava a chorar. O que realmente me motivava a continuar nessa rotina alucinante era saber que em breve teria uma profissão. Profissão esta, que hoje qualquer um pode exercer sem apresentar diploma ou sem ter que passar por nada do que passei. Enfim...

Frustrações a parte, com relação a minha experiência particular com a senzala do século XXI; o encontro inesperado com o palhaço Esparadrapo e meus devaneios sobre a época da faculdade, devo dizer que aprendi algumas lições importantes.

A primeira delas é que: dependendo das circunstâncias da vida, estamos fadados a abraçar a escravidão. Segunda: dependendo da profissão que escolher, você correrá o sério risco de receber no lugar do diploma, um maravilhoso ou odioso nariz de palhaço. Terceira e última: Palhaço também pode ser profeta. O Esparadrapo profetizou:

- A alegria vai passar!

E passou mesmo...

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Poesia

 
Nas lojas Mimi, localizada no Largo 13,
você compra livro por R$ 2,50.

Acredite se quiser!
Outro dia, encontrei em uma loja de R$ 1,99, o livro Lira dos Vinte Anos (1853) do escritor Álvares de Azevedo. 


Nunca pensei que chegaria o dia em que compraria um livro a preço de banana. Bom, esse dia chegou e eu, lógico, comprei!


Ao relê-lo voltei a me impressionar com a beleza 
dos poemas. Apesar da pouca idade do escritor, que morreu aos  vinte anos de idade, é inquestionável a qualidade da sua obra

Selecionei alguns trechos:
    "Era uma noite: - eu dormia...
    E nos meus sonhos revia as ilusões que sonhei!
    E no meu lado senti...Meu Deus! 
    por que não morri?
    Por que no sono acordei?".
      ***
    "Minha desgraça não é ser poeta, 
    Nem na terra de amor não ter um eco, 
    E meu anjo de Deus, o meu planeta 
    Tratar-me como trata-se um boneco..."
            ***
    "Eu deixo a vida como deixa o tédio
    Do deserto o poento caminheiro...
    Como as horas de um longo pesadelo
    Que se desfaz ao dobre de um sineiro...
    Como o desterro de minh’alma errante,
    Onde fogo insensato a consumia,
    Só levo uma saudade - é desses tempos
    Que amorosa ilusão embelecia."
    Álvares de Azevedo - Trechos extraídos do livro Lira dos 20 anos